Operação no Complexo da Penha é a mais letal da história do Rio; número de mortos pode passar de 130

© Tomaz Silva/Agência Brasil

Uma megaoperação das forças de segurança do Rio de Janeiro nos Complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte, se tornou a ação policial mais letal da história do estado. O número oficial de mortos divulgado pela Secretaria de Polícia Civil na quarta-feira (29) chegou a 119, sendo quatro policiais e 115 classificados como “narcoterroristas”. No entanto, o total de vítimas pode ser ainda maior, ultrapassando 130, após moradores encontrarem dezenas de outros corpos em uma área de mata.

A “Operação Contenção” foi planejada durante dois meses com o objetivo de cumprir 100 mandados de prisão contra líderes do Comando Vermelho, incluindo traficantes do Pará que estariam escondidos na região. Durante a ação, que começou na terça-feira (28), os confrontos foram intensos. Segundo o governo, os criminosos reagiram com armamento pesado, incluindo fuzis, e chegaram a usar drones para lançar granadas contra os agentes.

A Guerra de Números e o Protesto

A contagem de mortos gerou uma série de informações conflitantes.

  • Primeiro Balanço Oficial (terça-feira): O governo do Rio informou inicialmente 64 mortos, sendo 60 suspeitos e 4 policiais (dois civis e dois do BOPE).
  • Atualização do Governador (quarta-feira): Pela manhã, o governador Cláudio Castro (PL) atualizou o número para 58 mortos, sem explicar a redução.
  • Corpos encontrados por moradores: Durante a madrugada e manhã de quarta-feira, moradores da Penha retiraram por conta própria ao menos 74 corpos de uma área de mata de difícil acesso, conhecida como Vacaria, na Serra da Misericórdia. Em um ato de protesto e denúncia, os corpos foram levados para a Praça São Lucas, uma das principais da região.
  • Balanço Final (quarta-feira): Ao final do dia, o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, confirmou um total de 119 mortes ligadas à operação, incluindo os corpos encontrados na mata.

O secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, havia confirmado que os corpos levados à praça não estavam no balanço oficial inicial, e que seria realizada uma perícia para confirmar a relação das mortes com a operação. A contagem final dependerá da identificação oficial pelo Instituto Médico-Legal (IML).

Denúncias de Massacre e Ineficiência

Ativistas e moradores denunciam a operação como uma “chacina” e acusam as forças de segurança de execuções, invasões de domicílios e uso excessivo da força. Raull Santiago, ativista do Coletivo Papo Reto, que atua no Complexo do Alemão, classificou a ação como um marco que “grita a ineficiência da política de segurança pública do Rio de Janeiro”.

Segundo a polícia, além dos mortos, a operação resultou em 113 prisões — 33 de indivíduos de outros estados — e na apreensão de 31 fuzis e uma grande quantidade de drogas.

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